sábado, dezembro 23, 2006

Num outrora intervalo do cigarro ...

Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida… uma união sentida por ambos. Sinto-te com uma profundidade que assusta. Não existe tempo, relógios, tic tacs, quando estou contigo. O tempo pára e atencioso concede-nos tempo para nos descobrirmos. Não sei para onde caminho a teu lado. Perco-me nas brumas do pensamento, quando o que quero é não pensar. Há palavras, sentimentos que nos unem. Há gestos que teimam em despontar. Agora, neste momento, só não quero é acordar…

sexta-feira, dezembro 01, 2006

(N)Uma Outra Vida

Fala-me de amor… para que eu te reconheça em mim. Fala-me de amor para saber que pensas em mim, que não te esqueceste desta jura eterna. Não te ouço… pensei que fosse fácil de perceber para ambos os lados… É tudo tão difícil e as palavras continuam a ser poucas… sempre tão mudas, imperfeitas perante uma perfeição (in)concretizável. Falo-te de amor porque sei que não me ouves. Admito a fraqueza. Ao fim de contas, é o nosso desencontro que permite este encontro das palavras imperfeitas… Choro palavras que nunca bastarão. Fala-me de amor. Falo/as. Fujo. Amor.

domingo, novembro 26, 2006

O voo do poeta

Hoje, dia 26 de Novembro de 2006, o mundo fica mais pobre, desamparado diria…
O pão alimenta o estômago, a palavra alimenta a alma. Aquela fornalha fechou para sempre, levou com ela o segredo de um Poeta. No entanto, ele vive através da magia inebriante das suas palavras e das suas pinturas. Não gostava da televisão… recusava entrevistas. Não foram necessários os Media, para que admirássemos a sua genialidade. Ele viveu, em toda a sua plenitude, contra todos os que boicotassem a Sua Verdade. Há homens assim… seres mortais que vivem para sempre. Um homem que mesmo depois de voar, não desaparece das minhas memórias. Obrigada Mário Cesariny…

domingo, novembro 12, 2006

Feminina de Mário de Sá-Carneiro

Eu queria ser mulher pra me poder estender/ Ao lado dos meus amigos, nas “banquettes” dos cafés./ Eu queria ser mulher para poder estender/ Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés./ Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida/ E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro –/ Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro/ A falar de modas e a fazer “potins” – muito entretida./ Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios/ E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar –/ Eu queria ser mulher para que me fossem bem estes enleios, / Que num homem, francamente, não se podem desculpar./ Eu queria ser mulher para ter muitos amantes/ E enganá-los a todos – mesmo ao predilecto –/ Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais/ Esbelto, / Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes.../ Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse, / Eu queria ser mulher para me poder recusar...

segunda-feira, novembro 06, 2006

"Meio Conto"

Esta é a história que podia ter sido contada por outra pessoa que não eu, porque é fruto da imaginação, espaço de livre acesso a todos, mas do qual nem todos usufruem… Porquê? Já perguntaram a um doido o porquê da sua doidice? Se calhar ele até sabe a sua causa, mas ao desvelá-la já não haveria motivo para a sua insanidade. Curado o doente, o que fazer da mente?
Eu gosto de imaginar, viver um pouco fora de mim. Talvez tenha a mania das grandezas e não há quem me pare… Sei esconder-me pelas veredas da sobriedade, quando necessário. Ninguém me vê, ou quase nunca, descomposta, com um palavreado estranho, com a libido à flor da pele… não senhor, sou socialmente correcta e por isso resta-me a imaginação, para libertar-me das amarras da estranha sensação do Ser. Sou uma pessoa.
Retomando o que havia inicialmente dito, esta é a história que foi contada por outra pessoa que não eu. Porquê? Não sei, mas perguntem ao doido porque é que é doido e perceberão? Ou talvez não…
Esta é a história…

segunda-feira, outubro 30, 2006

Sentimento de Pertença

De que vale estar onde não se pertence…?!

É engraçado como o sentimento de pertença nos faz negar um presente que sentimos não ser nosso. Não é racional, mas intuitiva, esta força que nos puxa não sabemos bem para onde (por vezes sabemos), mas sabemos que não é ali o nosso lugar. Percorremos quilómetros de vida à procura desse espaço mágico que nos fará supostamente os homens e as mulheres mais felizes do mundo. Seremos? Ou somos já? Quereremos pertencer ao nosso lugar ou ultrajar-nos a nós próprios com promessas de quimeras impossíveis?! Vejo homens e mulheres a dizerem que não pertencem de modo algum ao momento presente, mas que dele não podem fugir, pois a realidade impede-os de viver no lugar de pertença. Se deles dependesse exclusivamente não estariam “no lugar de outro”, mas a vontade não é suficiente para derrubar as barreiras exteriores. Esquecer-se-ão das suas próprias barreiras?! Caladas e silenciosas para não constrangerem aquele que diz ser impedido de lutar mais…. Derrubá-las seria um passo importante para descobrir se já estamos onde pertencemos ou não.em>
Fim______

quarta-feira, outubro 25, 2006

Dizem que o tempo tudo apaga. Será mesmo verdade? Esta afirmação não nos despoja por completo da memória, receptáculo indispensável para agirmos em diversas situações e perante certas personalidades?! Parece não fazer sentido, à primeira vista. E talvez não faça. No entanto, ao encararmos esse tudo como sentimentos, podemos até aliar esse pensamento a outro bem conhecido “Longe da vista, longe do coração”. De facto, o afastamento de duas pessoas por um tempo indefinido pode e certamente atenua o que cada um sente pelo o outro, podendo inclusive desaparecer. Quem já não sentiu isso? Impossível não sentir. De outra forma, não nos apaixonaríamos novamente, porque viveríamos presos ao passado. Agora não será demais dizer que o tempo apaga tudo, isto é, todos os sentimentos, em relação a uma pessoa, ou situação vivida?! O que me parece que acontece neste período de tempo, indefinido, é que se dá uma transformação dos sentimentos, uma mudança, pois não se pode viver o passado. Chamaria a esta mudança instinto de sobrevivência, que poderá efectivamente ser adoptado naturalmente pelo indivíduo, o que significa que realmente A já não ama B, o que não invalida que já não sinta nada por ele; ou que se auto-forçou a um sentimento que vê como imprescindível à sua sobrevivência. Segundo estas últimas premissas, o tempo não apaga tudo, mas pode alterar tudo. E quem sabe se o processo apresentado não poderá sofrer uma regressão! Afinal, se falamos de sentimentos nunca poderemos dizer que não. Fim___