Afectos

O movimento giratório dos astros determina, não sem a minha permissão, onde estou. E onde permaneço, muitos destinos se cruzam e outros jamais se reconhecem...novamente. Uma pedra ocupa partes do meu coração pela ausência dos afectos. Sou causa e efeito deste irreconhecimento. Hoje estou assim, afectada. Não tenho o coração mais pequeno (pelo contrário), apenas com outros contornos irregulares. Julgar-nos-e-mos deuses, portadores da eterna possibilidade? estaremos eternamente condenados ao desencontro? No meio da multidão o meu coração ganha cor, quando um reconhecimento qualquer se dá. A fenda penetro no granito. A luz entrou.

Filtro da Gargalhada

A vida deveria ser uma gargalhada sem fim…
Como me riria ao chorar aquele amor perdido, como me reconfortaria a gargalhada pulsante nas minhas goelas agonizantes de um insucesso entre muitos outros. A gargalhada sem fim, é o meu grito de desespero, é o meu olho seco a lacrimejar, é a minha tristeza disfarçada, é a minha alegria suprema, é a felicidade de um momento… O filtro da gargalhada, hipérbole, metáfora e eufemismo de mim.
E quando o espectáculo acabar, a cortina se fechar, que a última coisa que se oiça seja a gargalhada sem fim.

pergunta.

o que precisas para ser feliz?

nada. sorri.

já viste o sol que brilha lá fora?

mas não está a chover?

às vezes os meus olhos ficam tão embaciados

não vejo nada.

Uma linha por deslindar

Voltaremos a encontrar-nos mesmo antes que o penses concretizar.
Saberás o sentido desta linha branca que te estendo?
Sou um novelo de fios, embaraçado nas suas próprias linhas desenhadas.
No fundo, há a certeza de não haver fim para este enlaçamento, por nós causado, por nós perpetuado. Eu e Tu, pronomes da nossa existência. Nada mais há para saber. Somos. Sentimos. Pensámos. Concretizámos. Pretérito Imperfeito das nossas linhas… Sigo o traçado que se me afigura e vejo um borrão, uma linha mal apagada, que insiste e persiste no caminho. Saberemos o sentido desta linha branca?