sábado, abril 11, 2009

A Despedida

Despedir
Despir
Pedir
Adeus. Perdi as minhas vestes, no momento em que entraste dentro de mim, com o olhar, de quem me quer acima do sol e da lua. Acreditei. Embriaguei-nos. Vestiste-me com os teus braços e não mais os abandonei. Tornei-me, diariamente, a libelinha, que não receia o amanhã. Fiz-te acreditar na incerteza do meu olhar. Cada vez que me observava ao espelho, sentia desconforto nesta nudez. Porquê? questionava. A observação é matéria da ciência. Eu apenas queria sentir. Pedi aos deuses que me explicassem a origem e me convencessem de que não tinha mal esta nudez. Tolice minha, procurar, fora, respostas. Os deuses condenaram-me ao exílio. Arrancaram-me dos teus braços. Vestiram-me. Obrigaram-me a contar os dias, a viver em função de uma roupa, que me impuseram. De ti, não tive mais notícias. A última vez, que me chegaram novas de ti, foi a de que um deus te havia engolido, com inveja da tua permanente nudez. Durante anos, procurei um espelho que fosse, para me tentar reconhecer. Todos os espelhos me haviam sido vedados. Foi então, que numa noite de lua cheia, olhei para o céu espelhado e vi os deuses a troçarem de mim.