domingo, novembro 26, 2006

O voo do poeta

Hoje, dia 26 de Novembro de 2006, o mundo fica mais pobre, desamparado diria…
O pão alimenta o estômago, a palavra alimenta a alma. Aquela fornalha fechou para sempre, levou com ela o segredo de um Poeta. No entanto, ele vive através da magia inebriante das suas palavras e das suas pinturas. Não gostava da televisão… recusava entrevistas. Não foram necessários os Media, para que admirássemos a sua genialidade. Ele viveu, em toda a sua plenitude, contra todos os que boicotassem a Sua Verdade. Há homens assim… seres mortais que vivem para sempre. Um homem que mesmo depois de voar, não desaparece das minhas memórias. Obrigada Mário Cesariny…

domingo, novembro 12, 2006

Feminina de Mário de Sá-Carneiro

Eu queria ser mulher pra me poder estender/ Ao lado dos meus amigos, nas “banquettes” dos cafés./ Eu queria ser mulher para poder estender/ Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés./ Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida/ E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro –/ Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro/ A falar de modas e a fazer “potins” – muito entretida./ Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios/ E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar –/ Eu queria ser mulher para que me fossem bem estes enleios, / Que num homem, francamente, não se podem desculpar./ Eu queria ser mulher para ter muitos amantes/ E enganá-los a todos – mesmo ao predilecto –/ Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais/ Esbelto, / Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes.../ Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse, / Eu queria ser mulher para me poder recusar...

segunda-feira, novembro 06, 2006

"Meio Conto"

Esta é a história que podia ter sido contada por outra pessoa que não eu, porque é fruto da imaginação, espaço de livre acesso a todos, mas do qual nem todos usufruem… Porquê? Já perguntaram a um doido o porquê da sua doidice? Se calhar ele até sabe a sua causa, mas ao desvelá-la já não haveria motivo para a sua insanidade. Curado o doente, o que fazer da mente?
Eu gosto de imaginar, viver um pouco fora de mim. Talvez tenha a mania das grandezas e não há quem me pare… Sei esconder-me pelas veredas da sobriedade, quando necessário. Ninguém me vê, ou quase nunca, descomposta, com um palavreado estranho, com a libido à flor da pele… não senhor, sou socialmente correcta e por isso resta-me a imaginação, para libertar-me das amarras da estranha sensação do Ser. Sou uma pessoa.
Retomando o que havia inicialmente dito, esta é a história que foi contada por outra pessoa que não eu. Porquê? Não sei, mas perguntem ao doido porque é que é doido e perceberão? Ou talvez não…
Esta é a história…